4 de janeiro de 2010

descobertas...de mim, dos outros e das coisas

Aino Kannisto

Hoje, logo pela manhã, descobri que a vida pode ser tão pequenina e escorregadia que não nos podemos dar ao luxo de a desperdiçar.

Logo pela manhã recebi a notícia da morte de um colega. Que estava bem, que tinha energia para e dar e vender, que não fumava, que era desportista e que se apagou assim, do nada, no espaço de um mês. Que era o primeiro a entregar-me toda a papelada chata que lhe pedia. Que foi o primeiro e o único colega a anunciar-me, orgulhoso, "acabei de saber que fui avaliado com um excelente no ano anterior". Que me deixou falta, mesmo que só o tivesse conhecido este ano lectivo e sem que tivéssemos grandes intimidades. Que não me sai da cabeça a última pequena conversa que tivemos. Que me acompanhou os pensamentos durante todo o dia.

Nem calculam a impressão que me fez ler-lhe o último sumário no livro de ponto de uma turma que partilhávamos. Ler a resposta que o filho me deu e que ainda tenho no telemóvel, ao sms que lhe enviei a desejar as melhoras 5 dias antes de morrer.

Descobri ainda que não podemos deixar-nos escorregar pelas paredes abaixo, que temos que contrariar as tristezas com coisas que nos façam sentir a vida.

Descobri que os textos que escrevo com mais prazer são aqueles que ninguém comenta.

Descobri que as malaguetas caseiras da Alexandra são tão potentes que podem tornar uma refeição que se quer apenas algo exótica, numa verdadeira bomba tailandesa ou indiana de fazer chorar, literalmente, as pedras da calçada.

Descobri que os quase homens (de 18 anos) têm a mania que podem ser Bobs os Construtores, mas que precisam da mente iluminada de uma mulher que os chame à razão quando que lhes diz que não, não é preciso um berbequim, porque o furo "inacabado" do móvel da Ikea, foi propositado e é mesmo assim.

Descobri que sou muito mais teimosa do que um reles parafuso calcinado, com a rosca passada…que sou uma verdadeira self-made woman e que só me falta mesmo conseguir descobrir uma maneira de, sozinha, conseguir fazer conchinha para dormir aconchegada nas noites frias.

15 comentários:

Storyteller disse...

E descobriste que és Mulher. Aliás, um Mulherão, como te adjectiva o nosso amigo comum.

Dylan disse...

A vida é assim, imprevisivel...

Bom regresso à docência.

Pronúncia disse...

Infelizmente só em situações como esta é que paramos um bocadinho para pensar e agradecer...

LBJ disse...

Já fui ultrapassado no que ia dizer :)

Bêjos linda mulher do Sul

Pulha Garcia disse...

Estou a tentar arranjar forças para fazer um post sobre perdas. São o tipo de posts que mais me custam, mas ao mesmo tempo os que fazem mais sentido...aqueles que falam das coisas desagradáveis.

Lamento a perda do teu colega, mas o caminho é para a frente. Num certo sentido acabamos todos da mesma forma. O importante é o que fazes enquanto ainda há vida.

Ana GG disse...

Story e Menino Jesus

Uma resposta 2 em 1, atendendo a que os vossos comentários expressam a mesma opinião.

Ai que babada estou...tento ser uma MULHER, sim, sempre que possível com maiúsculas.

Bêjos para os dois

Ana GG disse...

Dylan

A vida é assim...
Às vezes uma perfeita filha da put@!

Obrigada! O regresso ao trabalho tem sido difícil, a vapor.

Ana GG disse...

Pronúncia
Em situações deste tipo, a minha reacção é quase sempre de revolta, até me esqueço dos agradecimentos...

:S

Mas tenho plena consciência de que somos uns felizardos.

Ana GG disse...

Pulha
Fico à espera desse post. Tenho a certeza que o vais fazer com a qualidade a que nos habituaste. Se são os que mais sentido fazem, não sei...

O caminho tem mesmo que ser para a frente. Viver "hoje" com muita paixão, porque o amanhã é uma incógnita.

Vitor disse...

Pois é Ana…infelizmente estamos na mesma onda na perca de amigos, pois não há muito perdi um… (tenho lá no outro lado) a derradeira homenagem, e a que achei por bem contar…e mulher, sem nunca te ter visto, nem mais gorda, nem mais magra, não duvido que és uma mulher à séria…e desculpa lá não concordar contigo num ponto…é que todos os dias leio os teus post’s, e embora não comentando todos, não deixo de meditar sobre aqueles que escreves com mais substância…e acredita que fico mesmo a meditar!

Bj*

P.S.-desculpa lá este testamento…mas também fica em jeito de homenagem, ao teu, e meu amigo…certamente lá bem no alto do céu, sabem que cá bem em baixo no chão da terra, deixaram gente que muito gostava deles…!!!

Dylan disse...

Agasalha-te Ana, é desta que vai nevar para esses lados...

Sílvio Silva disse...

demorei muito tempo para encontrar palavras que expressassem algum sentimento, uma vez que a perda de alguém é um flagelo ao sentimento...

Ana GG disse...

Vitor

O "meu amigo", era apenas meu colega, tal como escrevi, não tínhamos grande intimidade. O certo é que me afectou bastante. A perda de uma vida assim, do nada, sem mais nem menos, sem se fazer anunciar.

Lamento a perda do teu.
É sempre difícil de aceitar...

Ana GG disse...

Dylan

Por acaso está um frio do caraças, antes nevasse que era bem mais divertido.

Ana GG disse...

Sílvio
De facto não existem palavras para exprimir o flagelo da morte.


obrigada pela visita!

pessoal que gosta de estar a par destas andanças

facebokiANOS a par desta coisa