21 de outubro de 2011

alembraDURAS, ou coisas minhas que vos ofereço (…ou impinjo, como preferirem)


Lembro-me que sempre gostei de ler à noite, sempre gostei do sossego para as coisas sérias, a luz do dia sempre me roubou a concentração e distrai-me com vontades de cafés, de conversas, de olhares para o vazio…na adolescência, como existia uma hora do recolher obrigatório e as leituras eram viciantes, recolhia-me aos lençóis deitada de bruços, cabeça tapada e lanterna de pilhas a alumiar a cena, até que o livro acabasse ou o sono me vencesse.

Lembro-me da avó Alice à mesa do jantar a descascar a fruta para o filho “tens de comer fruta Zé Carlos!” – enquanto a malta, netos carentes da única avó, ficava atónita, com olhar de S. Bernardo a ver o episódio que supostamente lhes estava destinado, passar-lhes descaradamente ao lado.

De ter tantas saudades do meu avô Gordinho e da minha avó Antónia, apesar de só os ter tido até aos meus 6 meses…

De soluçar de tanto chorar, sempre que a minha mãe me contava a história do Menino com uma Estrelinha na Testa, e de querer sempre mais e mais repetições, até quase sucumbir de tristeza…

Lembro-me de cometer loucuras absolutamente irresponsáveis (provavelmente com a mania de que era artista de circo, ou que o perigo era a minha profissão), fazer malabarismos em murinhos estreitos de 7ºs andares, de galgar  penhascos altíssimos e quase verticais, pendurar-me em varões de antenas de televisão balançando-me do lado exterior de varandas de 3ºs andares…fazia as amigas verdadeiras chorarem de aflição e inchava de orgulho, pela coragem das profecias…sei hoje que o “inchaço”, afinal era de pura idiotice juvenil.

Lembro-me de andar meses a fio a aprender a nadar, com a ajuda de vizinhos dedicados e pacientes e por fim, no espaço de segundos, aprender a nadar (à cão), depois de me empurrarem do pontão dos barcos, na ria de Faro.

Lembro-me de andar durante dois anos, entre os 11 e os 13, na vela…quase só porque estava apaixonada pelo professor que tinha na altura 18 anos. Também porque nesse dia, ao fim de semana, nos enfiávamos no hotel mais luxuoso de Faro, ludibriávamos o porteiro, e esgueirávamo-nos para a única piscina existente na cidade…era uma festa, com direito a toalhas do hotel e grandes saltos da prancha altíssima, de onde se via toda a ria e parte da cidade.

Lembro-me de escolher o MEU primeiro cão e de o baptizar de Pélé, porque era preto, não por racismos meus, mas por devoção a um grande jogador. Tão inteligente, tão carismático, tão especial, que fará parte de mim durante toda a minha vida.
Do meu ganso Manolito, quase arraçado de cão nos hábitos, tão fiel, tão meu segundo cão…que acabou, certamente, na panela dos desgraçados que o roubaram na altura da feira de Faro (provavelmente partiram algum dente, dado a rijeza do bicho que já deveria ter na altura uns 7 anos).

Lembro-me de quer ser professora de desenho ou de ginástica, desde sempre…santa ingenuidade, a das criancinhas! Assim que comecei a ter juízo, coloquei logo a ideia de parte, depois, ironia do destino, acabei no ensino, na área das Artes (primeiro por graça e conveniência, depois porque a nova profissão se entranhou nos poros).

E por hoje, não vos vou contar mais nada, porque a minha cabeça está tão cheia de lembranças, que vos iria afogar com tanta informação. Desnecessária, é certo, mas apeteceu-me tantoooo....

…experimentem fazer este exercício e vão ver a turbulência  que se gera na vossa cabeça


obrigada pela visita!

pessoal que gosta de estar a par destas andanças

facebokiANOS a par desta coisa