11 de dezembro de 2009

fragilidades

Não sei se por estarmos próximos do Natal, ou se por o céu estar muito azul, vieram-me assim, de repente, à memória situações que tranquei a sete chaves no meu cérebro.

Senti uma falta inexplicável da minha irmã e revi em slow motion, aqueles 13 dias em que esteve internada à espera de morrer.

Como lhe penteava os cabelos e a lavava com a mesma delicadeza com que o fiz ao meu filho recém nascido.

Como assisti à sua queda, à morte lenta das suas funções vitais.

A forma atabalhoada como já sem falar, me pediu por gestos desorientados uma caneta e me perguntou em hieróglifos de criança que acabou de aprender a juntar letras "Vou morrer?"

A mentira descarada que, com um sorriso carinhoso nos lábios e uma angústia sem tamanho na alma, lhe respondi "Estás tonta!? Vais ficar boa!"

E o coma profundo em que entrou a seguir.

E o ar desprotegido com que ficou.

E eu a querer não chorar.

E eu a querer dizer-lhe coisas bonitas, certa de que me ouvia.

E ela a apertar-me levemente a mão, como um passarinho.

E o telefonema do médico, naquela manhã.

E o meu medo de atender, já sabendo o que ia ouvir.

E o céu azul mais esta época, que se misturam e me trazem à memória estas coisas que era suposto estarem muito bem trancadas, que incomodam e doem, que ma trazem aos tropeções em imagens frágeis.

14 comentários:

Pulha Garcia disse...

Muito triste. Mas o caminho é para a frente, na mesma. O maior elogio aos que já partiram e gostavam de nós é vivermos uma vida realizada.

All the best

Storyteller disse...

Às vezes não sabemos o que dizer e faltam-nos as palavras.
Às vezes um gesto é infinitamente mais significativo que qualquer palavra atabalhoada.
Por tal, dou-te um abraço apertado. Bem apertadinho.

:)

Pronúncia disse...

Mesmo que seja apenas nas tuas recordações, ela vive contigo... é o que eu gosto de pensar daqueles que me foram (e são) queridos.

Beijo grande

rose disse...

Ana

Eu acredito que se encontram todos no "céu" que nos vêem,que se riem dos nossos disparates,que conversam entre eles e que a tua irmã já descobriu o meu pai e a minha mãe e devem divertirem-se à brava com conversetas mil.
E querem ver-nos felizes....
E por que não será assim?

Ana GG disse...

Pulha

Dou por mim muitas vezes a pensar "A Bea de certeza que ficaria contente com isto..."

Ana GG disse...

Story

Obrigada pelo abraço apertadinho. É sempre reconfortante.

De vez em quando ainda sinto esta saudade tão forte, que o tempo diluiu mas não sarou.

:)

Ana GG disse...

Pronúncia

Sabes que tenho a sensação que não se fica só pelas minhas recordações. Sinto que ainda está presente, falo tantas vezes com ela em surdina...tenho quase a certeza que me ouve.

Obrigada!

Ana GG disse...

rose

Às vezes faço por acreditar que assim seja.

Quem sabe ainda nos vamos todos rir muito lá em cima, quando chegar a nossa vez.

Porra de pensamentos que me invadem quando menos espero....

Dylan disse...

::::::::::::::::::::::::::::::::::

Ana GG disse...

Dylan

É mesmo isso :::::::::::::::::::::::

LBJ disse...

Ontem acabei por entrar por este teu canto por porta travessa e não vi este teu post e agora sinto-me meio tonto, para não variar e deixo-te um beijo

Ana GG disse...

LBJ

Não fiques tonto, são apenas "normalidades" que ocorrem de quando em vez.

Aceito o beijo!
Outro

Maria disse...

Menina do Sul

o silêncio de um beijo escrito ... ouso pensar que chega até ti.

beijinho

Ana GG disse...

Who...menina do Centro

CHEGOU!

Obrigada....beijinho


obrigada pela visita!

pessoal que gosta de estar a par destas andanças

facebokiANOS a par desta coisa