Não me cheira a Natal. Verdade se diga não me cheira a quase nada, que o meu olfacto anda meio desnorteado, com as faculdades perdidas entre o tabaco e a última constipação...por assim dizer, o meu nariz perdeu o Norte.
Voltando ao Natal, que passou a muito triste depois das mortes da família e passou a deslavado depois do divórcio, porque a minha família é pequenina, muito, muito, e os laços com a mais distante são muito pouco consistentes (pelo distanciamento, por perguiça, por erro meu e deles, por e por e por...).
Quando era miúda a época festejava-se da forma humilde possível a um casal com três filhos e em que o ordenado (só) do pai era esticado para a malta comer e vestir.
Sem querer ser saudosista, mas não me inibindo de ser nostálgica, desencadeava-se cá uma alegria na minha cabecinha, que só visto.
Os preliminares começavam com a apanha das tirinhas de musgo para o presépio, esse, sempre igual a si próprio com as figuras de louça (feias comó caraças, mas que eu venerava...reconheço)e um espelhinho redondo, que era o lago do pato de plástico amarelo.
O pinheiro natural chegava pelas mãos do meu pai, outra festança para mim. Redondinho como os pinheiros mansos, com uma folhagem assim feiosa e para o careca. Era o que se podia arranjar, porque a moda dos pinheiros nórdicos, bicudos e farfalhudos ainda nem se vislumbrava. Mas caramba, era cá uma excitação a chegada do dito cujo.
Os meus irmãos, muito mais velhos do que eu e nada dados às artes cénicas, estavam-se bem nas tintas para a estética da coisa...daí que a enfeitação ficava a cargo da minha mãe que me dava espaço para ser o seu braço direito, a perna esquerda e ambas as mãos, por assim dizer.
Devia de haver uma estrela porque há sempre, mas tal pormenor varreu-se-me da memória. Bolas poucas, pequenas e médias, cada qual da sua freguesia, num aparatoso convívio com umas fitas a descondizer com as ditas. Este aparato mantinha-se fiel à casa e esperava ansiosamente para sair à cena, ano após ano.
O ponto alto eram os enfeites de chocolate pendurados com uns fiozinhos dourados...ai que prazer me dava espalhá-los pela árvore, ai que díficil era conter-me para não os comer até ao dia de Natal...ai que desilusão e choro, quando nesse mesmo dia descobria que o meu irmão os tinha comido literalmente todos, deixando as pratas intactas, vistosas e OCAS!
Confesso que é a minha pior e mais alegre recordação natalícia.
Aiiiiiiii!!!! Não conto mais porque o texto já vai longo. Como escrevo pelos cotovelos e uma vez que as palavras são como as cerejas e estamos em tempo de romãs...
FELIZ NATAL para todos vós!
(a sério, não estou a ser apenas simpática e mimosa)
PS. Temos um cão novo,
o Ice-T, lindo de fazer invejaa qualquer mortal que com ele
se cruze.