14 de março de 2010

as escolas protegem os alunos?

O Bullying tem estado na agenda do dia. Não defendo ou ataco o termo, porque muito sinceramente quero que se lixe o que lhe chamam, para mim é violência gratuita e ponto final.

Tenho-me esquivado de escrever a minha opinião, mas as ideias não me largam a cabeça. E são tantas, mas tantas, tantas, que não sei até que ponto não me vou tornar uma chata da pior espécie.

Quem já me conhece um bocadinho (aqui das leituras) sabe que sou mãe e professora, que estou portanto dos dois lados do "campo de batalha". Por acaso, também já vivenciei as duas experiências que fazem notícia e que, muito tardiamente, alertaram as mentes para a reflexão sobre o estado das escolas públicas (abstenho-me de falar das privadas porque não tenho conhecimento de causa).

Vou recuar uns anos….

O meu filho foi, depois de ponderarmos os prós e os contras, para o ensino público. Sempre fui de opinião que esta seria a melhor opção, pois queria que crescesse com uma janela aberta para o mundo e não numa redoma de vidro.

Erradamente (ou não), ensinei-lhe desde o infantário, que nada se resolvia através da violência e sim através da palavra. À custa deste ensinamento, embora muito grande para a idade, desde cedo, e muitas vezes levou pancada dos colegas. A partir do 2º ano, apesar de ser dos poucos que não comia "Bolicaus", começou a engordar…tornou-se então um alvo muito mais fácil e apetecível. Só para chatear, o raio do puto, não se calava e respondia às provocações, o que se tornava meio caminho andado para levar ainda mais. Fui contornando a questão, e bem ou mal, resolvendo as coisas.

Quando se mudou para a escola dos crescidos, a situação piorou e constantemente era alvo de roubos e de bocas foleiras que o deixavam muito incomodado. Diversas vezes actuei, à minha maneira, alertando os Directores de Turma, que maioria das vezes me diziam que ele também os provocava, e por fim, falando directamente com alguns dos alunos envolvidos e que muitas das vezes o usavam como saco de boxe. O miúdo às vezes ficava amedrontado com as minhas tácticas, mas a coisa lá se ia resolvendo e felizmente, continuava a ser um dos melhores alunos da turma e ia socializando muito bem, era até uma criança popular, com muitos amigos.

Esteve na mesma turma, do 1º ao 9º ano, altura em que fui obrigada a retirá-lo da escola, porque as coisas tomaram proporções dramáticas.

Um dia cheguei à escola e um colega do meu filho alertou-me para o que se andava a passar com ele há mais de duas semanas…raramente ia aos intervalos, ficando sempre junto da sala de professores ou junto de adultos. Tinham-lhe batido MUITO e estava constantemente em pânico. Fiquei cega de raiva, as injustiças deixam-me doida. Culpei-me por não ter notado um comportamento diferente em casa…Perguntei-lhes se nenhum adulto da escola sabia do que se passava. Sabiam! A última cena, tinha sido na sala de convívio, na presença de funcionários e até de professores que iam de passagem e que NÃO PARARAM para o ajudar.

Trouxe o Diogo para casa e depois de conversarmos bastante, mostrou-me a perna direita cheia de hematomas desde o joelho até ao calcanhar. Contou-me ainda que lhe bateram diversas vezes com a cabeça de encontro aos cacifos.

Fomos a uma consulta e fez uma ecografia. Não estava em muito bom estado e poderia vir a ter problemas posteriormente. Redigi uma carta com 5 folhas ao Presidente do Conselho Executivo. Fui diversas vezes à escola para identificar os alunos através das fotografias dos livros de ponto. Insisti tantas vezes que queria que tomassem medidas e punissem os culpados, que por fim, me chamaram à escola. Veredicto do Director "Ele às vezes é que provoca! Que raio de mãe é a senhora, que não se apercebeu de nada?" Saí de lá vermelha de raiva (a besta conhecia-me, pois já lá tinha sido professora). Esperei cerca de um mês e a única coisa que foi feita, foi uma espera paciente de um professor que apanhou um gandulo de 17 anos em flagrante delito e lhe deu um murraço muito bem dado e à vista de toda a gente (dessa vez esqueci a importância do pacifismo na gestão de conflitos).

Os alunos não foram punidos e eu retirei o Diogo dessa escola, com muita pena de ambos porque se separou dos colegas que acompanhou durante 9 anos.

Passado 3 meses, o meu filho teve uma depressão grave com distúrbios de personalidade. Tornou-se violento para ele próprio e para os outros. Deixou de ter condições para poder frequentar a escola nesse ano. Foi medicado e assistido durante os dois anos seguintes.

As causas que o levaram a este estado?… Não sei ao certo! Foi um acumular de situações. Mas certamente estes episódios tiveram uma grande influência.

As escolas, protegem os alunos? Umas sim, outras não!

Os adultos protegem as crianças? Uns sim, outros não!

Teria muito mais que contar, porque também eu já sofri na pele, actos violentos por parte de alunos. Numa das escolas, o aluno foi suspenso por 10 dias, na outra, nada aconteceu, excepto a minha frustração de ter que me cruzar todos os dias com dois alunos (que nem eram meus) e que se ficaram possivelmente a rir com a inoperância do Conselho Directivo.

Não podemos generalizar. Mas que algo está errado com a escola pública…ESTÁ!

15 comentários:

Dylan disse...

Lamento pelo teu miúdo.

Só quero dizer que, se um dia acontecer algo parecido a um filho meu, esquecerei essas tretas pacifistas e farei da minha justiça. Não estou a dizer isso da boca para fora, quem me conhece sabe que não estou a brincar. Porque nenhum sistema de ensino pode ser conivente com estas situações, com esta inércia desesperante, doa a quem doer.

catwoman disse...

Como mães esquecemos os pacifismos em situações destas, estando nos dois lados da barreira é bem pior, ainda por cima se for numa escola por onde já passámos, ficamos divididos, mas quando nos atacam a cria qualquer progenitora, vira leoa, não é? Lamento pelo teu rapaz, deve ter sido bem difícil para ele , se a adolescência já o é! Atravessá-la tendo que enfrentar situações destas, ainda pior.O incrível é, de facto, a desculpabilização que se faz sistemáticamente, incrível é que os responsáveis pelas escolas tentem esconder, situações que deveriam ser conhecidas: 1º para os que têm medo possam dar um passo em frente e falarem ;2º para os que exercem os abusos, saibam que não vão sair impunes.


Mas também não é fácil ser-se professor e ter que se enfrentar uma situação destas. E aqui, mais uma vez as escolas têm culpa, se se fala de certos problemas, há colegas que ainda gozam, a tendência é ficar calado até não se conseguir mais, e é assim que muitos professores perdem o gosto pelo acto que os levou a serem professores: ensinar.
Bjs.

ROSE disse...

ARRISCO DIZER QUE A MAIOR PARTE DAS ESCOLAS PASSA AO LADO DESTAS "BESTIALIDADES".BULHAS SEMPRE HOUVE E SÃO NORMAIS,EU ENGALFINHEI-ME VÁRIAS VEZES E DAÍ NADA DE MAL VEIO AO MUNDO.
AGORA PERSEGUIÇÕES ,AGRESSÕES FÍSICAS E INSULTOS GRATUÍTOS SÃO UMA OUTRA COISA QUE HÁ MUITO TEMPO REQUER MEDIDAS DRÁSTICAS E BEM EFICAZES.AS SEQUELAS SÃO TERRÍVEIS
E MUITAS VEZES IRREVERSÍVEIS.
ACABE-SE COM A IMPUNIDADE DAS BESTAS ,SEM PANINHOS QUENTES NEM EXPLICAÇÕES IDIOTAS SEM SENTIDO ALGUM.

Pronúncia disse...

Ana, não é só com a escola que está algo de errado, é com a sociedade em geral... pais que abdicaram de ser pais que depositam as crianças nas escolas entregues a elas próprias e os professores que as eduquem. Sabes disto muito melhor que eu!

As escolas, por muito boa vontade que tenham, e isto quando a tem, acabam muitas vezes por ser impotentes perante estes verdadeiros marginais.

Há relativamente poucos anos atrás, quando um miúdo batia noutro (sempre houve bulhas entre miúdos, como diz a Rose) os pais do agressor para além de acreditarem e respeitarem o professor que fazia queixa do filho ainda o repreendia... hoje, se não insultar o professor, este anda com sorte.

É só a minha opinião, por aquilo que vou vendo e lendo, não se pode comparar à tua que vives isso tudo por dentro e em vários papeis, o de professora, de educadora e de mãe...

Storyteller disse...

Ana, vou partilhar contigo (e com os leitores deste teu espaço) algo que aconteceu no final do período passado no colégio do meu filho, ao meu filho.

Repara que eu utilizei a palavra «colégio». É uma IPSS, gerida por uma ordem religiosa feminina e fica em Lisboa. Tem meninas e meninos de todos os tipos (dado ser uma IPSS). É uma instituição que conheço melhor que qualquer outra, pois fui lá aluna e o meu pai foi lá professor.

Ora bem... uma tarde, na semana que antecedeu as férias de Natal, fui buscar os meus filhos à escola. Assim que lá cheguei, estava ele sentado na portaria, com um ar triste e desalentado. Olhei para ele e ele tinha um galo do tamanho de um ovo mesmo por cima do olho esquerdo. Assim que me viu, agarrou-se a mim a chorar (ele tem 8 anos). A educadora responsável pelo ATL (que é minha amiga) veio imediatamente ter comigo e contou-me a história toda:

No intervalo do almoço, três colegas do meu filho decidiram tirar os ténis a um quarto miúdo. Começaram a atirar os ténis uns aos outros e ficou por aí. Quando o dono dos ténis conseguiu recuperá-los e calçá-los, foi agarrado por trás por dois outros colegas. Um fez-lhe um gancho no pescoço, agarrando-o e o outro começou a esmurrar-lhe a barriga.

Continua...

Storyteller disse...

Continuação...

O meu filho e um outro colega, baixinho e franzino, ao verem o amigo aflito, correram para ajudá-lo. O mais pequeno levou logo uma chapada e caíu ao chão. Ficou totalmente virado ao contrário. O meu, como é mais alto e mais forte, lá se aguentou e conseguiu fazer com que o colega que apertava o pescoço ao outro o largasse.

Assim que o largou, o rufião (porque o é!) agarrou no meu filho, arrastou-o até à escadaria da (são três degraus) e começou a bater com a cabeça dele no corrimão da escadaria. Um corrimão de ferro!

Julgas que houve algum adulto que tivesse visto isto tudo? Nem um! Acontece que a tal minha amiga (a responsável do ATL), que estava a chegar do almoço, viu o meu filho e o outro franzino a chorar e foi perguntar-lhes o que tinha acontecido.

Obviamente que fiz queixa formal no colégio. Obviamente que não foi feita grande coisa. Obviamente que os paizinhos dos meninos não responderam à convocatória da Directora do colégio.

Como os agressores são meninos de 8 anos, o castigo foi ficarem sem intervalos. Nem um pedido de desculpa dos paizinhos dos agressores recebi. Nem eu nem os pais dos outros dois miúdos agredidos.

Como vês, infelizmente não é só na escola pública...

Vitor disse...

...Sabes que a ministra da educação foi escolhida a dedo...daí!

Bj*

mjf disse...

Olá!
A minha filhota sempre andou em colegios particulares e o mesmo se passou com alguns coleguinhas...há sempre um rufia em qualquer lado :=((((


Beijocas

Ana GG disse...

Dylan

Se soubesse o que sei hoje, talvez tivesse agido de outra forma.

Eu diria que nenhuma sociedade pode ser conivente com estas situações e a escola, é suposto ser um local seguro.

Ana GG disse...

Cat

No meu filho deixou marcas...se deixou!

Já tentei resolver alguns casos de que tive conhecimento ou que que presenciei(nem sempre com sucesso).
Recuso-me a fazer de conta que não é nada comigo. Pena é que nem todos façam o mesmo.

Para os professores também não é pêra doce. Felizmente, em 18 anos, só tive esses 3 casos pontuais.

Ana GG disse...

rose

De facto, "brigas e bestas", sempre houve. A diferença está, como dizes, nos paninhos quentes, que actualmente desculpabilizam as situações mais bárbaras, através da busca das razões que levam os meninos a agir assim...tenham paciência ó meus senhores!!!!!! PORRA!!!!!!

Ana GG disse...

Pron

É a sociedade, é o rumo que as coisas levaram.
É o egoísmo das pessoas que preferem fechar os olhos às desgraças do outro.

Há escolas que fazem o que está ao seu alcance, outras...nem por isso.

Para teres uma noção de como as coisas andam. Ontem, uma coleguinha minha que dá aulas pela primeira vez (acabou de fazer 24 anos), repreendeu um aluno do 10ª, com 15 anos. Na sua inexperiência, após uma TANGA que o rapaz lhe deu, para justificar o seu atraso de 20 minutos, disse-lhe "tu és é um grande mentiroso", ao que o galarote lhe responde empolgado "está-me a chamar mentiroso!? Veja lá se não lhe ponho um processo disciplinar!
Eu, que por acaso estava por perto, resolvi a situação e disse-lhe das boas, o que queria e não queria ouvir. Passado 5 minutos, parecia um cordeirinho.

Penso que por aqui dá para perceber em que estado o ensino se se encontra. O Ministério da Educação assim o fez. Agora, quem se lixa é o mexilhão!

Ana GG disse...

Story

Eu sei que não é um fenómeno exclusivo da escola pública. Acontece que nos colégios privados, apesar de também acontecer, a vigilância é mais apertada e os pais são muito mais presentes e atentos. No público, há muito filho "despejado" à sua sorte.

Ana GG disse...

Vitor

O problema não é desta ministra, vem de trás, é dos sucessivos ministérios.

Ana GG disse...

mjf

Bem vinda a esta humilde casa!
:)

Claro que há rufias em todo o lado. A má formação não é exclusiva de uma determinada classe social. Mas podes crer que no escola pública os casos assumem outra proporção.


obrigada pela visita!

pessoal que gosta de estar a par destas andanças

facebokiANOS a par desta coisa