
O Bullying tem estado na agenda do dia. Não defendo ou ataco o termo, porque muito sinceramente quero que se lixe o que lhe chamam, para mim é violência gratuita e ponto final.
Tenho-me esquivado de escrever a minha opinião, mas as ideias não me largam a cabeça. E são tantas, mas tantas, tantas, que não sei até que ponto não me vou tornar uma chata da pior espécie.
Quem já me conhece um bocadinho (aqui das leituras) sabe que sou mãe e professora, que estou portanto dos dois lados do "campo de batalha". Por acaso, também já vivenciei as duas experiências que fazem notícia e que, muito tardiamente, alertaram as mentes para a reflexão sobre o estado das escolas públicas (abstenho-me de falar das privadas porque não tenho conhecimento de causa).
Vou recuar uns anos….
O meu filho foi, depois de ponderarmos os prós e os contras, para o ensino público. Sempre fui de opinião que esta seria a melhor opção, pois queria que crescesse com uma janela aberta para o mundo e não numa redoma de vidro.
Erradamente (ou não), ensinei-lhe desde o infantário, que nada se resolvia através da violência e sim através da palavra. À custa deste ensinamento, embora muito grande para a idade, desde cedo, e muitas vezes levou pancada dos colegas. A partir do 2º ano, apesar de ser dos poucos que não comia "Bolicaus", começou a engordar…tornou-se então um alvo muito mais fácil e apetecível. Só para chatear, o raio do puto, não se calava e respondia às provocações, o que se tornava meio caminho andado para levar ainda mais. Fui contornando a questão, e bem ou mal, resolvendo as coisas.
Quando se mudou para a escola dos crescidos, a situação piorou e constantemente era alvo de roubos e de bocas foleiras que o deixavam muito incomodado. Diversas vezes actuei, à minha maneira, alertando os Directores de Turma, que maioria das vezes me diziam que ele também os provocava, e por fim, falando directamente com alguns dos alunos envolvidos e que muitas das vezes o usavam como saco de boxe. O miúdo às vezes ficava amedrontado com as minhas tácticas, mas a coisa lá se ia resolvendo e felizmente, continuava a ser um dos melhores alunos da turma e ia socializando muito bem, era até uma criança popular, com muitos amigos.
Esteve na mesma turma, do 1º ao 9º ano, altura em que fui obrigada a retirá-lo da escola, porque as coisas tomaram proporções dramáticas.
Um dia cheguei à escola e um colega do meu filho alertou-me para o que se andava a passar com ele há mais de duas semanas…raramente ia aos intervalos, ficando sempre junto da sala de professores ou junto de adultos. Tinham-lhe batido MUITO e estava constantemente em pânico. Fiquei cega de raiva, as injustiças deixam-me doida. Culpei-me por não ter notado um comportamento diferente em casa…Perguntei-lhes se nenhum adulto da escola sabia do que se passava. Sabiam! A última cena, tinha sido na sala de convívio, na presença de funcionários e até de professores que iam de passagem e que NÃO PARARAM para o ajudar.
Trouxe o Diogo para casa e depois de conversarmos bastante, mostrou-me a perna direita cheia de hematomas desde o joelho até ao calcanhar. Contou-me ainda que lhe bateram diversas vezes com a cabeça de encontro aos cacifos.
Fomos a uma consulta e fez uma ecografia. Não estava em muito bom estado e poderia vir a ter problemas posteriormente. Redigi uma carta com 5 folhas ao Presidente do Conselho Executivo. Fui diversas vezes à escola para identificar os alunos através das fotografias dos livros de ponto. Insisti tantas vezes que queria que tomassem medidas e punissem os culpados, que por fim, me chamaram à escola. Veredicto do Director "Ele às vezes é que provoca! Que raio de mãe é a senhora, que não se apercebeu de nada?" Saí de lá vermelha de raiva (a besta conhecia-me, pois já lá tinha sido professora). Esperei cerca de um mês e a única coisa que foi feita, foi uma espera paciente de um professor que apanhou um gandulo de 17 anos em flagrante delito e lhe deu um murraço muito bem dado e à vista de toda a gente (dessa vez esqueci a importância do pacifismo na gestão de conflitos).
Os alunos não foram punidos e eu retirei o Diogo dessa escola, com muita pena de ambos porque se separou dos colegas que acompanhou durante 9 anos.
Passado 3 meses, o meu filho teve uma depressão grave com distúrbios de personalidade. Tornou-se violento para ele próprio e para os outros. Deixou de ter condições para poder frequentar a escola nesse ano. Foi medicado e assistido durante os dois anos seguintes.
As causas que o levaram a este estado?… Não sei ao certo! Foi um acumular de situações. Mas certamente estes episódios tiveram uma grande influência.
As escolas, protegem os alunos? Umas sim, outras não!
Os adultos protegem as crianças? Uns sim, outros não!
Teria muito mais que contar, porque também eu já sofri na pele, actos violentos por parte de alunos. Numa das escolas, o aluno foi suspenso por 10 dias, na outra, nada aconteceu, excepto a minha frustração de ter que me cruzar todos os dias com dois alunos (que nem eram meus) e que se ficaram possivelmente a rir com a inoperância do Conselho Directivo.
Não podemos generalizar. Mas que algo está errado com a escola pública…ESTÁ!