Momentos

Enquanto fazia tempo entre uma reunião semanal chata, de proveitos duvidosos e a aula das senhoras do nocturno, fui fumar o meu cigarro à porta da escola.
O sítio, rodeado de campo por todos os lados como se de uma ilha se tratasse, àquela hora costuma estar mergulhado num sossego quase absoluto.

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Junto ao edifício da escola, apenas separadas por uma estrada estreita, encontram-se algumas moradias em fase de construção e o contentor da praxe que serve de hotel de muitas estrelas no céu, ao pessoal das obras.

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Este preambulo serve apenas para que se possam situar no espaço, o que quero mesmo partilhar, se é que se podem partilhar sentires, é a sensação que tive, sozinha, ali sentada naquela imensidão de nada…

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Neste fim de tarde, o silêncio, apenas entrecortado pela música saída do contentor /hotel, não muito alta mas que ecoava por todo o largo. A qualidade!? Do mais perfeito pimba "Dá-me o teu amor, vou-me apaixonar. Deixei de ser livre, de tanto te amar."

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Sem qualquer explicação que me pareça lógica, o som daquela música, a aragem amena, àquela hora, naquele local, souberam-me a mel de rosmaninho.

Transportaram-me para outros lugares…saborosos, despretensiosos, para noites de Verão, para cheiros de polvo assado, sabores e tonturas de imperiais frescas.

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A simplicidade do momento preencheu-me! A música, essa, encheu-me a cara de sorrisos bobos…

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Não me lembro de me ter acontecido nada igual.

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O ser humano é fantástico, uma verdadeira caixa de surpresas que encerra capacidades infinitas e inexplicáveis.