Hoje, sem saber como nem porquê, senti-me uma figurante de um filme do Kusturica...
...
Cenário:
Sala de espera de um hospital distrital
Sala de espera de um hospital distrital
Actores principais:
- Senhora muito perturbada (com um atraso mental, ou que se passou com as agruras da vida).
- Senhor perturbado (que também se deve ter passado com as agruras da vida).
- Senhora em vias de perturbação (prestes a passar-se com as agruras da vida).
Vou tentar dar-lhes uma imagem:
Na sala, pequena para tanta gente, as filas de cadeiras azuis estão na sua maioria viradas para uma parede branca…como ornamento uma televisão…estava a dar um daqueles programas idiotas com “apanhados” de crianças e bebés a fazerem o que melhor sabem, graçolas e trapalhadas.
A senhora muito perturbada ria-se às gargalhadas e imitava as caretas dos bebés repetindo a frase - “É meu! Aquele é meu! É a minha cara…saiu daqui (massajando a barriga)!”
O senhor perturbado, que estava a ocupar 3 cadeiras porque estava deitado a dormir, vestido com um traje de Pocahontas, acordou e passou-se com a senhora muito perturbada - ”Porra!!!! És capaz de calar essa boca!?”
A senhora em vias de perturbação, alheia a tudo e todos, falava alto e bom som, porém calma e pausadamente com alguém ao telemóvel – “Estou aqui à espera, nas urgências…pois! Ficaram todos do lado da VACA e contra mim. Ela é amante do outro, já há muitos anos…grande VACA! E antes teve uma porção de casos…a VACA!”
O meu filho, que supostamente estava doente, melhorou a olhos vistos. Não conseguia conter o riso e, discretamente enviou-me uma sms “Mãe, tira-me daqui que isto é surreal!”
E o óscar vai para o pessoal hospitalar das urgências…médicos, enfermeiros e maqueiros que têm de trabalhar sem o mínimo de condições, sob pressão e ainda levam com todas estas “perturbações”.
Eu só lá estive cerca de três horas e mesmo assim estive mesmo, mesmo à beirinha de uma perturbação causada pelas agruras da vida.
É o que dá ser-se pobretanas! Numa aflição (zinha) lá vamos às urgências dos hospitais públicos…onde as agruras da vida dão nisto. Se fosse um hospital privado, também levava com as perturbações…eram é causadas por outros motivos, com certeza.
12 comentários:
HAHAHAHAHAHAHA! Andamos numa de animais... tu falas em vacas, eu em mulas! Mas fica o aviso... ir às urgências só em caso urgente, podes vir de lá pior com alguma doença infecciosa e algumas delas são multi-resistentes aos antibióticos! Pior, mas muito pior, é vires de lá muito perturbada... :D
Beijos
Também tinha uma ideia muito negativa das urgências, até ter ido parar a uma num caso de vida ou de morte mesmo. E o Hospital do Barreiro, que até então tantas críticas minhas tinha recebido, subiu muito na minha consideração.
Beijoca
Se a coisa é de vida ou morte, e sabendo que acabamos por preferir a primeira à segunda, venham de lá as urgências, seja de que hospital ou coisa com uma cruz encarnada for. Se não for o caso, de vida ou morte, andar por ali só mesmo para ter uma injecção do abandono a que todos somos votados num dia a dia em que não existem nem votos nem eleições. Porque não duvido que a senhora muito perturbada, passando pelo senhor meio perturbado e acabando na que ia a caminho de se perturbar por entre comentários à vaca, qualquer deles deveria ter direito a uma assistência e espera mais humanas, diferente, que os resguardassem, e aos outros, de cenas Fellinianas em salas imbecilizadas, desumanizadas, rematadas com os programas televisivos para entreter debilóides e abandonados que tais em suas casas, tabernas, ou salas de espera de .. urgências.
Não viste por lá o País? Pelas urgências ?
Aprendiz
Pois é, andamos uns "animalescos". EHEHEHEH
Eu sei que ir às urgências só num caso urgente, acontece que precisava de uns exames (urgentes) e um amigo meu que estava de serviço prestou-se a fazê-los.
Quanto às doenças infecciosas...sou um bicho muito resistente! Já à perturbação...não tenho assim tanta resistência.
:D
beijos tb
SRRAJ
Felizmente ou infelizmente (depende do ponto de vista) nunca tive má impressão do pessoal que trabalha nas urgências. A minha irmã era uma doente crónica e assidua nestas andanças, por isso desde cedo que frequentei hospitais/serviços de urgência.
O serviço que os médicos/enfermeiros prestam, muita das vezes é o possível. Uns mais humanos do que outros...existem bons e maus profissionais, como em qualquer área. Aprendi a reconhecer o seu trabalho, que não deve ser nada fácil, sobretudo pela carga emocional que acarreta.
um beijo
Já se sabe que as urgências portuguesas são algo de surreal, mas também te digo podia ter sido muito pior. Esse foi um espectáculo dentro de outro
redjan
"...qualquer deles deveria ter direito a uma assistência e espera mais humanas, diferente, que os resguardassem, e aos outros, de cenas Fellinianas em salas imbecilizadas, desumanizadas, rematadas com os programas televisivos para entreter debilóides e abandonados que tais em suas casas, tabernas, ou salas de espera de .. urgências".
Nem mais!
O país...parecece-me que lhe vi uma pontinha, em vias de uma perturbação profunda.
forteifeio
Este é o espectáculo a que já nos habituámos, aquele que o país nos oferece diariamente, sem que o tenhamos pedido.
É o que eu digo.... o real suplanta qualquer imaginação!
mfc
Por vezes (cada vez mais) acontece.
É a tal estória, já só me falta mesmo ver "um porco a andar de bicicleta"...deve estar para breve.
:)
Considera-te uma heroina por teres superado tanta agrura alheia!
Puxa!
Kika
...como se já não me bastassem as minhas...
:D
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